terça-feira, 26 de novembro de 2013

Poema - Porcaria



Me acostumei a sentir dor
e fiquei alérgico a cura.

Meu mundo está corroído por sangue e também
alérgico ao vento.

Ao que parece o passeio na superfície me fez mal.
Ao que parece sou um peixe que vive sem água e oxigênio.
Ao que parece minhas escamas doidamente deram lugar a pele
tão mais dura suportar.
Ao que parece: ao que parece não aguento tinta.



terça-feira, 19 de novembro de 2013

POEMA - Entranhas




Meus braços
caem envolta do corpo.
Sou brasa de fim de fogueira,
tinta molhada prestes a se ressecar,
pois o pintor me terminou faltando partes.

Contesto o que já perdi.
Embrulhado pronto para a entrega...
mera ilusão. 
Essa insanidade clandestina
me invade e eu abraço.
Faço em pedaços minha sanidade real.

Meus lábios são rochas enrijecidas pelo frio e
rachadas pelo calor.

O grito já se foi, o que mais falta ir? 



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Poema - Os dois céus da lingua



muitos caixões sem corpos,
muitos mortos sem caixão,
a família  chorando com razão.

Torturas imensas 
sangue pela chão
Havia poucos morrendo de paixão. 
O vermelho era pecado,
chumbo a salvação.
O medo foi imperador,
as armas sua faca.

Era uma praia para os masoquistas
e um modo de enlouquecer os que eram sãos.
Mas havia guerreiros contra a escuridão.

Guerrear era lema, vencer era a salvação.

A resistência era forte com luz nas mãos.
A língua calada mirando o céu da boca
quer a liberdade, quer ser ouvida.
A luz precisou matar.

Poucos caixões sem corpos,
poucos mortos sem caixão,
a ditadura se arrefecendo com razão.

O chumbo tremeu de medo e desespero,
rachava sua intangivilidade aos poucos
de forma:
Lenta como o desabrochar de uma flor,
Gradual como o crepúsculo,
Segura como a morte.

No chumbo havia uma parte mais grossa, dura.
Quis parar a perda da intangibilidade, mas
como o destino traçou caminhos
querer mudá-los é algo... flamável. 

Finalmente,
O chumbo não rachou, esfarelou-se.
Suas cinzas foram levadas pelo vento
aderiram por ai e vivem até hoje.
Ao farelo concedido perdão,
as torturas não!!!

Agora,
a língua vê dois céus,
as cordas vocais retornaram as suas funções.

É tempo de gritar desprovido de humanidade.

Já não é preciso ter medo,
pois muitos morrem de paixão.
21 anos foi preciso para sufocar o mal
que venha os próximos.
O passado nos dá as linhas do futuro, o presente as consequências do passado.